Existem os produtos de beleza naturais que são chamados assim porque levam ingredientes da natureza como por exemplo aloe vera ou castanha do pará. Existem os chamados orgânicos, o que pode ser fácil de entender porque existe uma regulamentação para alimentos assim: preocupação com sustentabilidade, sem agrotóxicos, etc. Existem os produtos veganos que atendem às pessoas que tomaram a decisão de não consumir produtos de origem animal. Mas o boom que estamos notando aqui em Nova York é dos chamados produtos clean. Não encontrei tradução para Português, então continuarei a usar esse nome.
A indústria de produtos de beleza globalmente está crescendo 3.8% ao ano e toda a industria spa/natural/wellness (bem estar) cresce muito mais, em torno de 10%, segundo Tara Foley, fundadora e CEO da Follain. Essa é uma marca de produtos clean que tem duas lojas físicas em Boston, loja online e teve uma pop store em Nova York nos últimos meses. Tudo isso é explicado por uma tendência de comportamento de bem estar. As pessoas parecem que estão mais preocupadas em comer bem, em fazer exercício fisico, praticar yoga e meditação do que em adquirir bens materiais. E não só se preocupam na qualidade da comida que comem mas querem saber o que tem no creme que passam no rosto ou no shampoo que lavam o cabelo dos filhos. E essa preocupação não é algo exclusivo para eles mesmos e com a família, mas também com o meio ambiente.
Mas e o que seriam os ditos produtos clean? Não existe nenhuma regulamentação sobre eles, o nome veio de uma necessidade de ficar diferente dos naturais, orgânicos e veganos. Fui conversar com uma amiga que é estudiosa do assunto há mais de 10 anos e sempre buscou usar produtos clean em tudo, de beleza, para os filhos e até na limpeza da casa. Ela me explicou que os EUA não fazem essa regulamentação dos produtos de beleza como fazem com alimentos. As empresas não são obrigadas a colocar todos os ingredientes que tem na sua formula de um creme, daí dizer que um produto é natural significa somente que um ou alguns dos seus ingredientes são naturais, mas pode ter vários outros produtos que causam alterações hormonais, alergia, até doenças. Por coincidência, depois que conversei com ela, o Business of Fashion publicou um artigo sobre a industria de produtos clean. E a Larissa Jensen, analista de produtos de beleza do NPD – New Product Development disse que “não existe nenhuma regulamentação do que são produtos naturais, e qualquer marca pode ter venenos naturais”.
Minha amiga falou que existem aproximadamente 1500 ingredientes proibidos em produtos de beleza na Europa e nos EUA são somente 30, os mesmos desde os anos 40, informação que foi confirmada no mesmo artigo do BOF. Mas no momento, parece que alguns senadores estão tratando para que algumas leis sejam mudadas.
Então para resumir, o produto clean:
- “é o novo natural, embora isso não seja oficial” segundo Blair Lawson do Goop, ele desmistifica o antigo natural, trazendo pra realidade o que de fato é bom para o consumidor e para o meio ambiente;
- não pode ter nenhuma dessas 1500 ou mais substancias banidas na Europa porque sabidamente podem causar alterações hormonais (menstruais, dificuldade para engravidar, etc.), alergias, cancer, etc;
- a empresa tem que ter total controle da cadeia de produção, os produtos podem ser seguros mas são facilmente contaminados por substâncias que fazem mal;
- os produtos não precisam ser todos naturais, existe produto feito pelo homem que não faz mal;
- perfumes são um grande problema, já que as formulas são segredo. Por isso as marcas clean preferem opções de óleos naturais.
E o que está acontecendo de positivo nesse sentido?
- a demanda por esses produtos e o aumento do consumo faz até empresas grandes se preocuparem com o assunto: a gigante Target anunciou que está se preparando para ser completamente transparente em relação a ingredientes de seus produtos até 2020, eliminando por exemplo formaldeído e parabeno de todos os seus produtos de casa, beleza e crianças. São 30 milhões de consumidores que visitam a Target por semana. A rede popular de farmácias CVS anunciou que até 2019 vai eliminar as mesmas substancias de 600 produtos que eles tem no momento à venda.
- existem várias opções de onde se comprar produtos clean no momento, principalmente online: Beautycounter, Credo, Follain, Detox Market, Shen que também tem um spa no Brooklyn.
- em Nova York, nós temos loja física da Credo no Soho e tivemos uma pop up da Follain que é de Boston. Esperamos que ela volte em breve para uma localização definitiva.
- alguns acreditam que o produto clean pode perder qualidade e funcionalidade por não ter certas substâncias, mas a revista Allure, que pontua produtos de beleza todo ano, deu prêmio de produto do ano para o tinted moisturizer da Beautycounter. Que é totalmente clean.
Não é exatamente fácil e barato desenvolver um produto clean e isso pode impactar no preço final sim. Alguns conservantes como parabeno são baratos. Alguns produtos são mais complicados, como filtro solar, quem já comprou para seus filhos sabe o quanto é mais difícil passar e espalhar no corpo, sem que fique tudo branco.
Ainda temos todos muito o que aprender sobre o assunto, mas como qualquer tendência de comportamento nos estimula a pesquisar e entender o movimento por trás. E nesse caso, também me interessa pessoalmente, já uso faz tempo o app no celular do EWG – Environmental Working Group, onde posso scanear o código de barra dos produtos e saber sobre os ingredientes (eles não tem todos os produtos que existem, mas ajuda muito). E comecei a experimentar há tempos alguns produtos de algumas marcas como da rms e como dizem por aqui, so far so good.
Se você gosta do tema, tem outro post sobre tendência de comportamento aqui.
Marcia, de NY