O assunto de moda da semana aqui foi a entrevista que o CMO (Chief Marketing Officer) da Victoria’s Secret deu pra Vogue após o famoso desfile da marca. Ao ser questionado sobre a falta de inclusão e diversidade de modelos na apresentação, Ed Razek disse que ninguém estaria interessado em ver diversidade ou inclusão nem no ano 2000 nem agora, simplesmente porque o desfile deles é uma fantasia. É claro que houve forte reação nas mídias sociais e isso acelerou a saída da CEO da marca. O assunto do nosso post é: A Victoria’s Secret está conectada com as mulheres?
E por que nós estamos prestando atenção nisso? Há muito tempo, nos nossos Workshops de Tendências e cursos nós viemos falando de novas marcas de lingerie surgindo, essas sim, bem mais conectadas com o que as mulheres querem: Third Love, Aerie, True & Co, Everlane. E já há algum tempo, lemos que isso vem impactando as vendas da Victoria’s Secret, mesmo eles ainda sendo os lideres do mercado aqui nos EUA. Segundo artigo no NY Times desse domingo, as ações da empresa caíram 41% esse ano. O desfile que é televisionado, teve uma audiência de 9.7 milhões em 2013 contra 5 milhões em 2017. Especula-se que o declínio dos shopping centers por aqui possa ser uma das razões – e a Victoria’s Secret é uma “loja de mall”, como se referem aqui a lojas que tem em todos os shopping centers e vendem as mesmas coisas.
Mas outra razão poderia ser o fato que as mulheres não estão mais tão interessadas em sutiãs push-ups (os que aumentam os seios) e sim em aceitar e celebrar o tamanho de seios que elas tem na realidade. Sem falar em conforto e em se sentirem representadas. Ed Razek ainda citou na entrevista que a Victoria’s Secret não quer ser o Third Love (terceiro amor) de ninguém, e sim eles são o primeiro amor. Uma clara alusão a marca de lingerie Third Love que foi criada por mulheres, vende exclusivamente online, faz vários tons de nude e tem 70 tamanhos de sutiã. E mais do que isso, tem mulheres reais como modelos e ensina como escolher o melhor tamanho e modelo para cada uma. Você pode comprar e usar durante um mês e resolver com calma se é um sutiã confortavel para o seu dia a dia e seus seios. Se não funcionar para você, o sutiã será doado. E pode ter certeza que há muitos lugares no mundo onde mulheres não tem acesso a comprar sutiã nenhum.
A fundadora da Third Love escreveu uma carta aberta a Victoria’s Secret no NY Times de domingo também. Alias, bem bonita. Ela falou que eles não vivem uma fantasia e sim que a realidade deles é “a mulher que usa sutiã na sua vida real, e elas vão pro trabalho, amamentam, fazem exercício, cuidam de pais doentes, e servem seu país” “É hora de parar de dizer às mulheres o que deixa elas sexy – deixa a gente decidir” E que elas se sentiram bem lisonjeadas por eles terem citado a Third Love, mas que elas não querem ser o primeiro amor de mulher nenhuma, querem ser o ultimo. E mais: “Para todas as mulheres, nós vemos vocês e nós escutamos vocês. Sua realidade é suficiente”. E terminaram com a #ToEachHerOwn que seria mais ou menos “para cada uma, o que for bom pra ela”. Afinal, só mesmo cada uma de nós pode saber o que é bom pra nós, ainda mais num assunto tão delicado quanto roupa íntima.
Como mulher e consultora de imagem sei o quanto não faz bem para uma mulher não se sentir representada numa marca. Sei o quanto pode ser difícil e delicado comprar sutiã. A maioria das mulheres usa tamanho errado e lingerie é a base de um guarda-roupa. E como é difícil se sentir representada em tantas fases na nossa vida, com todas nossas oscilações hormonais, gravidez, amamentação, menopausa, flutuações de peso, sem falar nos problemas de saude. Tudo mexe tanto com nossa auto estima, não é mesmo? Há vários anos atras, escrevi esse post sobre como comprar sutiã nos Estados Unidos, e eu já citava “uma marca que as brasileiras adoravam” como não sendo uma que eu indicava. E em tempos de #MeToo e #TimesUp nada pode fazer menos sentido do que uma marca de roupa íntima feminina ser feita pensando em agradar o publico masculino.
Não é fascinante vermos tudo isso acontecendo? E você, o que pensa sobre isso? Adoraria ouvir a opinião de vocês.
Marcia